Foi uma noite muito especial! No encerramento de mais uma etapa do projeto Escritores Brasileiros, o talento de Bartolomeu Campos de Queirós e de Vera Holtz brindou o público com horas incríveis de prosa e verso. Aliás muito boa prosa e versos de uma força poética indiscutível. Bartô tem o dom de encantar! Encanta quando escreve, quando fala do seu jeito sereno e tranquilo, quando conta casos e nos revela sua paixão pela palavra. Ontem estava especialmente inspirado e bem-humorado. Começou falando que tinha horror ao palco. Lembrou de uma apresentação que fez na escola, quando criança em que ao invés de falar Querubins, repetia Cherubins e todos riam. Revelou que começou a escrever com 27 anos, quando morava na Europa e que a escrita foi uma forma de lidar com a saudade que tinha do Brasil. Fruto da imensa saudade e de uma solidão muito grande, surgiu O peixe e o pássaro, seu primeiro livro. Segundo o escritor, escrever é uma forma de passar a vida a limpo, de ir polindo as coisas. Para o mestre Bartô, a literatura e a psicanálise são parecidas porque têm a palavra como objeto e para ele, a palavra cura. Durante o encontro desta quarta-feira aqui em Brasília, o escritor contou casos de sua infância, falou de seu processo criativo, revelou curiosidades de seu dia-a-dia, como o hábito de só escrever em sua casa, à mão, de calça e sapato, como um ritual: "Se estou de bermuda e descalço, a inspiração não vem", brincou! Bartolomeu não se cansa de dizer que a literatura tem compromisso apenas com a fantasia e não com o real. Mesmo revelando que muitas das suas histórias foram inspiradas nas situações familiares que viveu, ele ressalta que o escritor sempre se esconde na metáfora e que apenas a metáfora e a fantasia são capazes de libertar o leitor. "O olhar é muito raso e o dentro, só a imaginação visita", diz ele. A atriz Vera Holtz, militante pela causa da leitura no Brasil, assim como Bartolomeu, fez interpretações emocionadas de vários trechos das obras do escritor. Com sua prosa poética afiadíssima, Bartolomeu fez rir e chorar, lembrou seus encantamentos com os avós e os pais, contou detalhes de sua infância no interior e deu até aula de molecagem aprendida com o avô Joaquim para desafinar a banda de metais das procissões. A meninada chupava limão, quando os músicos passavam, fazia caretas e conseguia desconcentrar, principalmente, os músicos dos instrumentos de sopro! Ler Bartolomeu é sempre uma descoberta, ouvir o professor falando, tecendo suas histórias com tanta delicadeza é outro privilégio impagável, mas ter além de tudo a maestria de uma atriz como a Vera, dando vida aos livros de Bartolomeu, foi um presente para a imaginação, o coração e a alma. Deixei o CCBB ontem mais leve, mais feliz e muito mais plena. E pra quem perdeu o delicioso bate papo de ontem, mais uma chance: o encontro se repete hoje no Sesi do Gama.
quinta-feira, 24 de março de 2011
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