segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Dica de Leitura

RUGAS SÃO MEMÓRIAS! A dica de leitura de hoje é uma homenagem carinhosa a todos os avós!
Os avós são sempre ídolos das crianças e esse belo laço de amor entre os mais velhos e os pequenos foi bastante explorado na literatura infantil. Muitos dos livros tratam mesmo das dificuldades de envelhecer:Em seu artigo "INFÂNCIA E VELHICE ATADAS PELA LITERATURA INFANTIL" CRISTIANE MADANÊLO DE OLIVEIRA, diz o seguinte:"Manoel de Barros no livro "Fazedor de Amanhecer" (2001) fala do abandono em um poema chamado Avô: Meu avô dava grandeza ao abandono.Era com ele que vinham os ventos a conversarSentava-se o velho sobre uma pedra nos fundos do quintalE vinham as pombas e vinham as moscas a conversar.Saía do fundo do quintal pra dentro da casaE vinham os gatos a conversar com ele.Tenho certeza que o meu avô enriquecia a palavra abandonoEle ampliava a solidão dessa palavra. "Molecagens do Vovô", de Márcio Trigo (1998), é um exemplo desse papel. Em função de não possuírem voz, avô e neto tornam-se muito próximos, amigos íntimos, cúmplices de molecagens. A história mostra bem a questão do sustento sendo usada contra a velhice como uma garantia de poder e de voz. A fuga do avô para não causar mais problemas à filha e ao genro assemelha-se às atitudes infantis. O único que dá atenção ao idoso da casa, entende suas dificuldades, oferece-lhe apoio é o neto e grande parceiro de brincadeiras.Para não se sentirem sós, muitos idosos vivem em função de animais de estimação ou à espera da visita dos netos com sua vivacidade. Assim, há todo um ritual de confecção de doces, construção de brinquedos e concessões para as crianças. São muitos os livros que mostram esse processo de preparação e ansiosa espera. Nesse sentido, a casa dos avós torna-se uma espécie de parque de diversões, com o fascínio infantil pelo culto à memória de cada objeto que guarda uma história. Os livros Casa de Vó (1994), de Guiomar Paiva Brandão, A cristaleira (1999) de Graziela Bozano Hetzel e Bisa Bia, Bisa Bel (1985), de Ana Maria Machado, registram bem esse mundo fascinante.Vovó quer namorar (1990) de Maria de Lourdes Krieguer tematiza a vaidade da avó Frosina e a repressão da filha que diz não serem hábitos de "velha de respeito" cuidar da aparência e enfeitar-se. A neta de Frosina redescobre em sua avó uma grande companheira que não morreu para a vida, menos ainda para o amor. Mas nem tudo são dificuldades e saudades de um tempo que não volta mais!"Já citei aqui no blog uma avó bem divertida homenageada em versos pelo saudoso Elias José e como não falar das avós do Jonas Ribeiro no adorável: "Avó Maluca,Lelé da Cuca e Vó Pirada, da Pá Virada! Resolvi dedicar a dica de leitura de hoje ao tema depois de passear por um blog lá do outro lado do mar e encontrar a indicação maravilhosa da Rita Pimenta, de Portugal: http://letrapequenaonline.blogspot.comVejam só que belo livro.Andei procurando por aqui e não há nas livrarias, mas é possível importar."Quase sempre desprezadas, disfarçadas ou esticadas (com os tristes exemplos de figuras públicas que se conhecem), as rugas correspondem a episódios vividos por quem as traz no rosto. Uma espécie de materialização do tempo que nem o ilustrador mais talentoso conseguiria desenhar com tamanha precisão e profundidade.Histórias Escritas na Cara, Cada Avó É Um Livro de Contos (escrito por Isabel Zambujal, ilustrado por Madalena Ghira e editado pela Oficina do Livro) fala-nos disso mesmo. Uma avó vai contando à sua neta Clara a que correspondem os sulcos que transporta nas faces.“As rugas que nasceram por causa de coisas boas, quero que fiquem para sempre no meu rosto para me reavivarem a memória.” (…) “A essas, que contam histórias feias, mimo-as com um bom creme, fazendo-lhes festas para que sosseguem, percam a raiva e fiquem tão serenas que se deixe de dar por elas”, (pág. 26).Madalena Ghira ilustra o livro com sensibilidade e alegria, criando uma narrativa de elementos e cores que, além de enriquecer o texto, convida o leitor a viajar para além dele. Uma história gráfica que faculta novas e criativas interpretações. Viva os avós e o tempo."

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