quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Aletramento Fraterno - Ler para o ventre, um ato de afeto!



Sou jornalista, escritora e mãe de três filhos: Beatriz (12 anos), Felipe ( 8 anos) e Luiza (2 anos). Com os três experimentei a alegria imensa de compartilhar o amor pelos livros. Beatriz foi quem me fisgou da escrita realista e factual, exigida pelo jornalismo, para a Literatura Infantil, que hoje me permite inventar mundos e personagens. Com o Felipe o encontro com as histórias também foi natural, ele é um apaixonado por livros, por teatro, fantoches, e fantasias. Mas Luiza, que chegou no mais delicioso susto que a vida me pregou, foi a que mais cedo dividiu comigo momentos literários. Já na barriga, assim que soube que estava grávida ( e vivendo um outro tempo de florescimentos, desengavetando afetos e práticas de uma maternagem bem mais consciente e madura, pois engravidei às vésperas de completar 40 anos de idade), comecei a ler para a “barriga”. Ainda nem sabia se seria um menino ou uma menina, mas estava certa de que naqueles momentos diários com os livros eu e o bebê construíamos uma relação mais forte e de certa forma encantada. Aos poucos os irmãos mais velhos e o meu marido se integraram também ao ritual de ler e contar histórias para a “barriga”.
Não são poucos os estudos científicos que revelam o quanto os bebês no útero já são capazes de perceber afetos e interagir. Mais ainda: o quanto é fundamental incentivar todo e qualquer laço afetivo na gestação e na primeira infância. Muitos adultos insistem em subestimar a capacidade intelectual das crianças e dos bebês. De minhas experimentações artísticas e estéticas com meus filhos – que sempre ouviram músicas, leituras e histórias narradas durante a vida intrauterina e depois apreciaram espetáculos de teatro, música e poesia para bebês – surgiu a vontade de escrever para bebês. Não livrinhos, cheios de diminutivos, de frases sem sentido para estampar em pano ou plástico e declarar: “São livros-brinquedo! Para as crianças de 0 a 3 anos de idade estão ótimos, eles não sabem mesmo ler!” Ouvi muita coisa parecida quando falava que queria me dedicar a escrever para os mais miúdos. E minha vontade se transformou em quase obsessão. Comecei a ler, pesquisar, comprar livros para bebês editados em outros países, conversar com pessoas que trabalham focadas na primeira infância, com psicólogos, pediatras, neurologistas, pais, mães, avós e avôs e com as crianças também. Uma das coisas mais marcantes durante meu período de estudo sobre o assunto foi a quase unanimidade de gestantes reclamando certa ausência dos maridos no envolvimento com o bebê durante a gravidez. Nas pesquisas, a grande maioria dos pais declara só sentir a paternidade a partir do nascimento. Esse, foi outro dado que me empurrou a pensar em textos poéticos e interativos para que os pais, sejam ou não de primeira viagem, os irmãos, parentes e cuidadores possam também tecer laços de carinho com o bebê ainda no útero e por meio da leitura literária. Nos textos em que venho trabalhando, tudo parte das sensações, de estímulos, como um sopro, que funciona de diferentes jeitos para a barriga ou para o recém-nascido, mas não deixa de experimentar o tato, a delícia de soprar e ser soprado. A ideia é juntar poesia escrita, com poesia visual, e, mais que isso, poesia sensorial para permitir o tempo todo um encontro de emoções, onde os cinco sentidos que nos fazem perceber o mundo estejam conectados de forma a tecer uma teia afetiva que certamente trará benefícios para todos.
Os bebês lêem o mundo a seu modo, primeiro pela boca, depois, com a ajuda dos outros sentidos, vão construindo um repertório de possibilidades e potencialidades. O quanto antes forem estimulados e incentivados a fazer suas próprias descobertas, mais aptos e seguros vão-se tornar. A literatura pode ser uma ferramenta maravilhosa em todo o processo de desenvolvimento e é ainda uma inesgotável fonte de prazer. Livro para bebês não tem que ser apenas livro para brincar, levar para o banho ou montar e desmontar. Pode ser tudo isso também, mas tem que ser, acima de qualquer outra coisa, literário no sentido mais poético da palavra!
Algumas das histórias que escrevo para bebês são para serem lidas para a “barriga” e não apenas pela mãe que já entende muito bem o que é ter dois corações pulsando juntos ,ligados por um cordão umbilical, que no dia do parto se romperá e por outro laço, muito mais forte, que nunca será cortado! São histórias para serem “sentidas”, sopradas, cantadas, tateadas, degustadas, lidas e ouvidas quantas vezes se desejar compartilhar com o bebê, dentro e fora do útero, a emoção que sentimos porque ele já está lá!

4 comentários:

Roberta Fraga disse...

Olá, adorei o blog. Gostaria de saber o contato de vocês para apresentar um trabalho meu sobre depressão infantil.
Meu nome é Roberta Fraga
Email fraga.roberta@gmail.com

Gloria Ferreira disse...

Ale, sou testemunha de quanto a Luiza é presente no mundo da literatura. Ainda bebê ela estava em todas as Feiras Literárias, em Lançamentos, em Encontro com seus leitores...Enfim , era uma bebê altamente letrada ! rsrsrs
Também numa família que respira cultura como a dela , só peoderia ser, afinal "Filha de peixinho, peixinho é !"
Beijos em todos !

Alessandra Roscoe disse...

Oi, Roberta, mande-me um e-mail: alessandraroscoe@uol.com.br
Beijo.

Alessandra Roscoe disse...

Você é mais que testemunha, Glória!
Beijo, querida!