Fico repleta de esperança e não qualquer esperança, ao perceber, na programação da Rede Globo, que tem indiscutível audiência em todo o Brasil, algumas cenas nas novelas, depoimentos e mesmo matérias jornalísitcas tendo a leitura como foco. Só pra citar alguns momentos: no folhetim das sete da noite, uma das personagens centrais apareceu em cena sendo presenteada com um livro de receitas, falou sobre a felicidade de receber aquele presente e da importância da leitura em sua vida e do gosto que sempre cultivou pelo ato de ler. Na novela das oito, duas personagens já apareceram com livro nas mãos, uma contando história para o filho e outra, uma modelo, no ensaio fotográfico, como se estivesse lendo. Nos depoimentos reais que encerram a novela, pelo menos três nas últimas semanas falaram da importância do letramento e tiveram a batalha contra o analfabetismo como ponto de partida para as histórias de superação. Num deles, até a famosa frase de Monteiro Lobato de que "um país se faz com homens e livros" foi citada. Mas no capítulo de sábado 26/12 da novela Viver a Vida de Manoel Carlos um momento emocionou. Foi durante a comemoração do Natal na família de Luciana, personagem vivida por Aline Morais, que ficou tetraplégica depois de um acidente, a avó da garota, interpretada por Lolita Rodrigues declamou um poema de Mário Quintana. A poesia deu o tom da cena e foi encerrada pela personagem de Lilian Cabral, porque Lolita Rodrigues com a voz embargada não conseguiu falar os últimos versos.
Ainda na útlima semana, uma matéria do talentoso jornalista Marcelo Canelas narrou a história de uma presidiária que está prestes a deixar a cadeia depois de cumprir pena por tráfico de drogas. Segundo Canelas, a mulher que descobriu na prisão a sua liberdade conta que ganhou asas ao ser designada para trabalhar na biblioteca do presídio. Leu os clássicos de Machado de Assis e de tantos outros, conheceu poesias e histórias às vezes distantes, às vezes muito próximas da sua própria história. Encontrou atrás das grades a paixão pela literatura. Há pouco mais de um mês tenho disparado e-mails e telefonemas para diretores de programas de várias emissoras, jornalistas, artistas e formadores de opinião. Muitos apoios chegam de onde menos espero e, sinceramente, fico feliz de ver que numa das maiores e mais respeitadas emissoras de Tv do país alguma coisa parece estar mudando. Podem ser pequenos gestos, mas são importantíssimos e demonstram a boa vontade de tantos com uma causa que não é só minha.
Ah, sim! A poesia do Quintana?
Esperança
Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
— ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...
Texto de Mário Quintana extraído do livro "Nova Antologia Poética", Editora Globo - São Paulo, 1998, pág. 118.
domingo, 27 de dezembro de 2009
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Um comentário:
Lindo poema. Velho Quintana e sua sabedoria !!!
Bj Dri
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